José Niza, se fosse vivo, faria hoje 78 anos de idade

 

José Niza, Médico, Músico e Político, autor de “E Depois do Adeus”, interpretada por Paulo de Carvalho e que serviu de “senha” para o arranque do 25 de Abril de 1974.

 

No dia em que faria 78 anos de idade, recordem-mo-lo hoje aqui, na esperança de que o 25 espírito que nos trouxe o 25 de Abril de 1974, nunca se perca.

 

jose-nizaJOSÉ Manuel NIZA Antunes Mendes, Médico, Músico e Político, natural de Lisboa, nasceu a 16-09-1938 e faleceu a 23-09-2011. Passou a infância em Portalegre, Santarém, e a Juventude em Coimbra. Compositor, autor de letras, arranjador, produtor discográfico, intérprete de guitarra, guitarra eléctrica e viola.

Foi influenciado pela actividade musical de alguns dos seus familiares: a mãe completou o Curso de Piano do Conservatório Nacional, tendo sido convidada por Viana da Mota para sua launa; o avô tocava flauta e o bisavô, José Niza, foi compositor.

Enquanto estudante no ,iceu de Santarém, interessou-se pela cançaõ de Coimbra e aprendeu a tocar guitarra através da audição de fonogramas de Artur Paredes e António Brojo.

Terminado o Liceu, foi o interesse pela música que se praticava na Universidade de Coimbra que o levou a matricular-se na Faculdade de Medicina daquela Universidade, em 1956. Licenciou-se em Medicina em 1966 e, em 1968, defendeu uma tese sobre esquizofrenia crónica. A partir de 1971, foi interno de Psiquiatria no Hospital Miguel Bombarda, tendo terminado o internato da especialidade em 1974. Em 1956, enquanto estudante, inscreveu-se na Tuna Académica da Universidade de Coimbra e formou um grupo de fados e guitarradas comDavid Leandro Ribeiro, João Conde Veiga e Emanuel Maranha das Neves. Integrou igualmente o Orfeão Académico de Coimbra. Com estes organismos, participou nas digressões a vários países europeus (Alemanha, Espanha, França, Suiíça e Suécia) e às províncias ultramarinas de Angola e São Tomé e Príncipe, entre 1957 e 1962. Actuou com os guitarristas António Portugla, Jorge Godinho e Jorge Runa, entre outros, e começou a acompanhar regularmente José Afonso, Fernando Machado Soares, Luiz Goes, Fernando Rolim, entre outros.

Desde finais da década de 50, colaborou activamente no movimento que viria a ser designado por «movimento da balada», liderado por José Afonso. Participou ainda com esse cantor nas gravações das baladas Minha Mãe e Balada Aleixo. Em 1958, desenvolveu interesse pela bossa nova e pelo jazz, inicialmente através da audição de fonogramas. Em 1960, com Daniel Proença de Carvalho, Rui Ressurreição, José Quitério, entre outros, foi um dos fundadores do Club de Jazz do OAC, integrando o quarteto deste organismo (guitarra eléctrica). Juntamente com Luís Villas-Boas, organizou os dois primeiros festivais internacionais de Jazz que se realizaram em Portugal (Festival Internacional de Jazz de Coimbra, 1967 e 1968), onde pontuaram músicos como Dexter Gordon, Don Byas, Jean Pierre Gebler, entre outros.

Ainda em 1969, foi mobilizado para a Guerra Colonial, onde prestou serviço enquanto Médico no Norte de Angola. Foi nesse período que compôs todas as canções que dariam origem aos álbuns Gente de aqui e de agora (de Adriano Correia de Oliveira e Fala do Homem Nascido (baseado em poemas de António Gedeão, interpretados por Carlos Mendes, Duarte Mendes, Samuel e Tonicha). Foi ainda em Angola que, em 1970, recebeu o convite para dirigir a produção musical da editora Arnaldo Trindade Ldª.

Até 1976, ano em que deixou a editora por ter sido eleito Deputado à Assembelia Constituinte e, posteriormente, à Assembelia da República, sempre nas listas do Partido Socialista.

Produziu e dirigiu dezenas de fonogramas para cantores como Adriano Correia de Oliveira, José Afonso, Luís Cília e Paulo de Carvalho e para o declamador Mário Viegas. Compôs cerca de 300 canções, interpretadas por vários cantores portugueses e estrangeiros, entre os quais Adriano Correia de Oliveira, Carlos do Carmo, Carlos Mendes, Erika Plühar (cantora e actriz austríaca), Fernando Girão, Isabel Silvestre, Janita Salomé, Lena d’Água, Marc Oreget (cantos francês, vencedor do Grand Prix da Academie Charles Cros, por duas vezes), Paulo de Carvalho, Simone de Oliveira, Rui Veloso, com quem viria a manter uma lona e intensa colaboração musical.

Foi José Calvário que o incentivou  concorrer ao Festival RTP da Canção de 1972. A partir de então José Niza foi autor das letras de três canções que venceram este certame (todas elas com música de José Calvário); em 1972, a canção A Festa da Vida foi interpretada por Carlos Mendes, vencendo o concurso desse ano e obtendo a melhor classificação de Portugal até então, no Festival da Eurivisão; a canção E Depois do Adeus, foi interpretada por Paulo de Carvalho e viria a ser escolhida pelo MFA como primeira senha musical da revolução do 25 de Abril de 1974; em 1988, a canção Voltarei, interpretada por Dora.

Foi também autor de uma das canções vencedoras ao compor, em 1976, música para um poema de Manuel Alegre (Uma Flor de Verde pinho), interpretada por Carlos do Carmo.

Foi Deputado à Assembleia Constituinte e à Assembleia da República 81975-1985 e 1995-1999). Foi Deputado ao Conselho da Europa 81983-1985 e 1995-1999), tendo sempre sido membro da Comissão da Cultura deste organismo.

No Parlamento Português, foi autor da Lei de Protecção da Música Portuguesa na sua Difusão pela Rádio e pela Televisão (Lei nº 12/81, também conhecida por «Lei Niza», aprovada por unanimidade em 1982. Foi ainda co-autor do actual Código do Direito de Autor e dos Direitos Conexos.

A partir da sua vivência musical, escreveu uma obra editada em dois volumes (1999), caracterizando a canção de Coimbra e os seus principais protagonistas.

Em 1994, foi condecorado como Grande Oficial da Ordem de Mérito.

O seu nome faz parte da Toponímia de: Sintra (Freguesia de Belas).

Fonte: “Enciclopédia da Música em Portugal no Século XX” (Direcção de Salwa Castelo-Branco, 3º Volume, L-P, Pág. 911  e 1912,  Temas e Debates, Círculo de Leitores)

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