Comemora-se hoje o centenário do nascimento do Arquitecto António Vicente de Castro.

ANTÓNIO VICENTE DE CASTRO, Arquitecto, natural de Lisboa, nasceu a 17-10-1920 e faleceu a 26-11-2002. Viveu a sua infância e juventude em Lagos. Depois de ter passado pela Escola de Belas-Artes de Lisboa, frequentou a Escola de Belas Artes do Porto, entre 1942 e 1955, onde terminou o Curso de Arquitectura. Regressou, pouco depois, ao Algarve desenvolvendo obra sobretudo no Barlavento.

António Vicente de Castro, imbuído de uma atitude de resistência política que articulava com os ditames do Movimento Moderno no campo da arquitectura e do urbanismo, manifestou-se de forma coerente e de modo intenso no campo político da esquerda e da luta anti estatal, militando o MUDJ (Movimento de Unidade Democrática Juvenil), tendo até sido preso pela PIDE em 1947, e impedido, alguns anos depois, de frequentar a Escola de Belas Artes de Lisboa, interrompendo a sua frequência ao curso de Arquitectura, por se ter manifestado em defesa de “atitudes indignas”5 por parte de outros alunos.

Discípulo de Carlos Ramos acabaria por formar-se em Arquitectura pela Escola de Belas Artes do Porto em 1955, apresentando como tese final, o projecto para o Posto Rodoviário de Lagos – Estalagem São Cristóvão.

É, também, em Lagos onde é impossível passar sem avistar o degradado edifício do antigo Hotel São Cristóvão. Para a generalidade dos visitantes pode ser descrito como um avultado aglomerado de volumes rebocados de branco, repetindo sombrias varandas. Esta imagem mantém-se assim há tanto tempo, que para a maioria dos residentes nas redondezas, a fugaz e «desprezável descrição» pode também ser a mesma. São os que atravessaram a geração de 1960 que recordam o ainda identificável embrião original que implodiu naquele amontoado de construção; era uma estalagem, que em conjunto com uma bomba de gasolina adjacente completava o Posto Rodoviário de Lagos,

Radicou-se em Portimão a partir de 1956, onde estabeleceu o seu gabinete de arquitectura de onde saíram mais de uma centena de projectos da sua autoria, revelando uma intensa actividade profissional que prolongou por mais de quatro décadas. Manteve também uma consciência cívica e politica que o levou a participar em diversas acções, como a campanha eleitoral para as “eleições legislativas” de 1969, em Portimão ou no “3º Congresso de Oposição de Democrática em Aveiro”, em 1973, além de ter desenvolvido uma actividade crítica, evidente nos vários artigos publicados na imprensa no âmbito da arquitectura, planeamento e turismo. António Vicente de Castro faleceu em Lisboa a 26 de Novembro de 2002, aos 82 anos, deixando um conjunto de obras arquitectónicas notáveis no contexto algarvio.

O seu legado arquitectónico caracteriza-se por edificações integradas num urbanismo que privilegiava as construções isoladas, bem expostas ao sol e integradas em espaços verdes, com circulação rodoviária separada do trânsito pedonal; edifícios em formas simples geométricas, com elementos modulados, erguidos com recurso ao betão, ao aço e ao vidro. Nos projectos, Vicente de Castro demonstra uma clara e nítida tendência decorativa e de policromia, pela utilização de materiais de revestimento com cores e texturas, criando contrastes cromáticos intensos e vibrantes com recurso à cerâmica de vidrado colorido, à aplicação de cores em grelhas de cimento, ou à simples utilização de rebocos pintados.

O seu nome faz parte da Toponímia de: Portimão (Beco, Rua e Travessa António Vicente de Castro).

Fonte: “HÉLDER SAMUEL GONÇALVES DE LIMA – ANTÓNIO VICENTE DE CASTRO / AMPLIAÇÃO DA ESTALAGEM SÃO CRISTÓVÃO”  (Dissertação apresentada para obtenção do Grau de Mestre em Arquitectura no Curso de Mestrado Integrado, conferido pela Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias. Orientador: Prof. Doutor Miguel Santiago Fernandes. Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Instituto Superior Manuel Teixeira Gomes, Portimão, 2014)

Fonte: “Promontoria Monográfica – História do Algarve”, (Fragnentos para a História do Turismo no Algarve, coordenação de Alexandre Rodrigues Gonçalves; Paulo Dias Oliveira e Cristina Fé Santos).

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