“Quem Foi Quem na Toponímia do Município de Santa Cruz das Flores”

PRÍNCIPE DO MÓNACO – Albert Honoré Charles Grimaldi, Príncipe Alberto I do Mónaco. Cientista, natural de Paris (França), nasceu a 13-11-1848, e faleceu a 26-06-1922. O Prímcipe Aberto I do Mónaco, teve uma educação clássica em França, que teria como objectivo a sua preparação para a liderança da corte monegasca. No entanto, a sua incontornável vocação para o mar definiu desde cedo a sua vida.

Aprendeu a navegar em Lorient, em França, e mais tarde foi oficial nas Marinhas Espanhola e Francesa, carreira que claramente não motivou o pacifista. Quando tinha 22 anos começou a mostrar interesse pela oceanografia, ciência que dava os seus primeiros passos.

As campanhas britânicas do Challenger (1873; Tizard et al. 1885), as francesas do Travailleur e do Talisman (1880-83; Vaillant 1888) e as americanas do Blake e Albatross (Goode & Bean 1895), geraram um grande interesse pelas ciências do mar, principalmente entre as elites informadas das sociedades ocidentais.

Em 1879 faz a sua primeira viagem Atlântica para explorar as regiões insulares da Europa. Sai do Mediterrâneo e navega para ocidente. Primeiro Marrocos e depois os Arquipélagos Macaronésicos, Madeira, Canárias e Açores. Em Março de 1879 chega a Ponta Delgada, S. Miguel pela primeira vez, onde permanece por algum tempo. Visita demoradamente várias Ilhas, incluindo as Flores e o Corvo. Deixa-se envolver pela cultura local e pela paisagem e aparentemente fica fascinado pelas Ilhas.

Naquele período romântico, Albert I podia dedicar-se à ciência movido pela curiosidade e paixão pelo mar, já que pela sua condição de herdeiro da Coroa do Mónaco financiava as suas investigações.

Iniciou as Campanhas Oceanográficas em 1885. Em 1889, o Príncipe ascende ao trono do Mónaco e casa com a Princesa Alice, uma inspiração marcante num determinado período da sua carreira. Durante 30 anos constrói três navios oceanográficos (Princesse Alice, Princesse Alice II e Hirondelle II), para além do Hirondelle que adquirira anteriormente.

O Príncipe do Mónaco elegeu o mar profundo dos Açores como o seu laboratório natural. Das 29 campanhas oceanográficas, 13 visitaram a região. As viagens decorreram ao longo de 30 anos, e o mar das ilhas foi estudado vezes sem conta, por todos os seus navios. Em 1915 fez a sua última campanha oceanográfica, uma pequena viagem limitada ao Mediterrâneo. A 1.ª Guerra Mundial impossibilitou-o de prosseguir.

Nos anos seguintes, Albert I dedica-se essencialmente ao fortalecimento de instituições que promovem a investigação oceanográfica, à divulgação científica, à conservação da natureza e à paz.

Albert I do Mónaco liderava pessoalmente os seus programas multidisciplinares de larga escala. Ele dirigia tanto as operações de marinharia e navegação, como as exigentes ope rações de amostragem científica. A liderança das campanhas oceanográficas pelo próprio mecenas era caso único, já que nas iniciativas anteriores, os patrocinadores suportavam financeiramente as equipas científicas, mas não participavam activamente nos trabalhos de mar.

Este foi claramente o modelo que motivou o seu primo, o Rei D. Carlos I de Portugal, para a exploração oceanográfica das águas nacionais da Península Ibérica

O objectivo central das campanhas oceanográficas do Príncipe Albert I do Mónaco foi a exploração da fauna oceânica, pelágica e bentónica. No entanto, para além da biologia marinha, o Príncipe investigou a topografia e a natureza dos fundos oceânicos, as correntes marinhas, as propriedades físicas e químicas das águas e a relação oceano/atmosfera, através da meteorologia.

Os trabalhos decorreram principalmente entre Maio e Outubro, quando o Atlântico Norte está mais calmo.

Hirondelle foi o nome que Príncipe escolheu para a embarcação Pleiad, quando a adquiriu, em 1873, com 11 anos. Era uma escuna (gouellete), sem qualquer tipo de motorização, além do vento e da força braçal dos seus tripulantes. As limitações de operacionalidade desta plataforma de investigação levaram o Príncipe a substituí-la pelo Princesse Alice (1892-1897), um navio desenhado e construído para investigar o domínio profundo dos oceanos. À medida que a tecnologia se tornava mais exigente, a ambição de explorar um oceano cada vez mais fundo levou o Príncipe a mandar construir outros dois navios oceanográficos. O Princesse Alice II (1898-1910) e o Hirondelle II (1911- -1927) eram naturalmente mais cómodos, mais velozes e seguros e mais bem equipados, tanto em termos de laboratórios como em meios operacionais. Durante o Inverno, as embarcações eram sujeitas a manutenção e re-equipadas para responderem às novas exigências, estabelecidas pelas campanhas anteriores.

O Príncipe do Mónaco centrou os seus trabalhos no Atlântico Norte, especialmente no sector nordeste, e no Mediterrâneo. Em 1884, no Mar do Norte e no Báltico, teve o primeiro contacto com as metodologias oceanográficas, especificamente com a amostragem de plâncton por pequenas redes de superfície. Este treino antecedeu a sua primeira campanha oceanográfica, em 1885, na qual rumou aos Açores e ao Atlântico Noroeste. Ao longo de 30 anos explorou o oceano entre as latitudes de Cabo Verde e de Spitzbergen, entre os meridianos da Noruega e do Mediterrâneo, até à Terra Nova, no Canadá.

Nas expedições para sul, exploraram os mares da Madeira (1897, 1905, 1911 e 1912), Canárias (1904) e Cabo Verde (1901). Os montes submarinos do complexo Gorringe foram extensivamente explorados (1894, 1901-02, 1904, 1909-11).

No entanto, o Mar dos Açores foi mais visitado do que qualquer outra região, já que o Príncipe explorou estas águas durante 13 campanhas, com os seus 4 navios oceanográficos (e.g. Richard, 1934) (ver Tabela 1 e Fig. 1). Os Açores foram escolhidos como o principal centro de investigação: o jardim de águas profundas do Príncipe. A escolha deste laboratório natural para levar a cabo 45% das suas campanhas, teve razões logísticas, relacionadas com o acesso fácil ao oceano profundo e com o apoio que encontrava em terra, mas também razões emotivas, que reflectiam o interesse e a paixão que o Príncipe do Mónaco nutria pelos Açores. Durante estas campanhas, Albert I visitou todas as ilhas do Arquipélago, e em todas, ele e sua tripulação relacionaram-se de forma muito intensa com as gentes locais (Albert I, 1966). O esforço pessoal do Príncipe para o conhecimento do mar profundo desta área do Atlântico Norte central, não tem paralelo na história da oceanografia. A sua amizade com o povo açoriano ainda se faz sentir com entusiasmo.

As campanhas do Príncipe Alberto I do Mónaco contribuíram decisivamente para o progresso da oceanografia física e biológica, numa altura em que o conhecimento científico do mar estava na sua fase embrionária. Além de terem contribuído para a inovação tecnológica das metodologias ocea nográficas, as campanhas possibilitaram a descoberta de formas de vida e de relações ecológicas até então desconhecidas. A descoberta de bancos e fossas submarinas e dos percursos da circulação geral do Atlântico Norte, foram contribuições importantes dos trabalhos do Príncipe do Mónaco.

Em relação ao tema da Meteorologia, a sua grande motivação relacionava-se com a necessidade de implementar uma rede Atlântica de Observatórios Meteorológicos, com pontos nas Bermudas, Açores, Canárias e Cabo Verde. Com as ilhas ligadas à Europa por cabos submarinos, os problemas estavam minimizados, já que se poderia enviar informação meteorológica por telegrama.

O interesse pela meteorologia encontrou um forte aliado nos Açores: o Coronel Afonso Chaves, o único cientista açoriano da confiança do Príncipe (Carpine- ‑Lancre, 2001). O objectivo era criar uma rede Meteorológica nos Açores e um Serviço Internacional de Meteorologia. A luta que travaram com os estados europeus ribeirinhos (nomeadamente Portugal e Inglaterra) foi parcialmente ganha. Em 1901, o País cria os Serviços Meteorológicos dos Açores, dirigidos por Chaves, mas o Observatório Internacional não vê a luz do dia. Mais tarde, a rede alarga-se a toda a região. As Estações de Meteorologia nos Açores forneciam dados importantes para a previsão do clima na Europa.

O seu nome faz parte da Toponímia de: Ponta Delgada (Avenida Alberto I do Mónaco); Santa Cruz das Flores (Avenida Príncipe do Mónaco)

Fonte: “A importância das campanhas oceanográficas do príncipe Albert I do Mónaco para o conhecimento do Mar dos Açores”, (por Filipe Mora Porteiro, Boletim do Núcleo Cultural da Horta, 18: 189-219)

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