“GRAVADORES DE SELOS POSTAIS PORTUGUESES”

cavalo-dos-ctt-antigoOs C.T.T., com este ou com outros nomes que foram tendo ao longo dos anos, tiveram, para o seu prestígio e engrandecimento, a contribuição de muitas pessoas. São essas pessoas que, dentro da medida do possível, pretendo dar a conhecer.

 

João Pedroso GOMES DA SILVA, Gravador e Professor, nasceu na Freguesia dos Olivais (Lisboa), a 17-02-1823, e faleceu na Rua São Pedro de Alcânatra, nº 67-1º, na Freguesia da Encarnação (Lisboa), a 05-12-1890. Era filho de José Pedroso Gomes da Silva e de Ana da Piedade.

Cumulativamente com o lugar de Escriturário da Fábrica do Tabaco, que exerceu durante alguns anos, dedicou-se, desde rapaz, a trabalhos de Gravura em madeira, encontrando-se já produções suas no «Archivo Popular», de 1840. A sua colaboração artística neste semanário é vasta, e vai até 1843, ano em que suspendeu a publicação.

Quando em 1856 Vicente Jorge de Castro, o seu irmão João Maria e o capitalista Tomás de Aquino Gomes, constituídos em sociedade comercial (Castro, Irmão & Cª) fundaram o Archico Pitoresto, e reuniram à sua volta as melhores figuras literárias da época e os mais hábeis artistas do buril, João Pedroso enfileirou nestes últimos.

Por volta de 1862, os proprietários da simpática revista criaram um Atelier-Escola de Gravura em Madeira, cuja direcção foi confiada a Nogueira da Silva e a João Pedroso, e onde se revelaram algumas vocações e se aperfeiçoaram artistas então no princípio da carreira. Infelizmente, por desinteligências entre dirigentes e dirigidos, ciumes artísticos e outras fraquiezas humanas, o Atelier-Escola dedapareceu algum tempo depois.

João Pedroso continuou, no entanto, a colaborar largamente no Archivo e aproduzir outros trabalhos explêndidos como ilustrador de li e publicações periódicas, podendo dizer-se que não houve no seu tempo revista ilustrada emq ue não figurassem gravuras com a sua marca: J. Pedroso.

Foi por muito tempo, e até à sua morte, o Gracador das obras editadas pela Academia Real de Ciências, lugar emque veio a suceder-lhe um dos seus melhores discípulos: Filipe José Fernandes.

Pela extinção do Contrato dos Tabacos, em 1864, os empregados deste organismo foram colocados em diversas Repartições do Estado, e João Pedroso, aproveitando o ensejo, pediu e obteve que lhe fosse dada a regência de uma Aula de Gravura em Madeira na Academia de Belas Artes de Lisboa, pelo mesmo vencimento que recebia no antigo emprego, acrescido de uma gratificação mensal de dez mil réis.

Masi tarde, quando duma Reforma do Ensino, a Cadeira de Gravura em Madeira entrou no número das Disciplinas ordinárias da Academia e Pedroso foi incluído no quadro do professorado, com o vencimento correspondente. Jubilou-se em 1888, após a congestão que o inabilitou para a sua tão grata função de Mestre.

Além de Filipe Fernandes, a que já fizemos referência, foram discípulos de João Pedroso e depois Artista de mérito; seu sobrinho José Armando Pedroso Gomes da Silva; Luciano Lallemant; João Heitor; Rafael Pimenta; Albino Caetano da Silva Pinto, etc.

Numa espécie de revista, Gravura de Madeira em Portugal, que publicou de 1872 a 1876, reuniu 47 magníficas gravuras, por ele executadas, reproduzindo desenhos originais seus e de Manuel de Macedo; Crstino; Rafael Bordalo Pinheiro; Vítor Bastos; Bomei; Lupi; Isaías Newton; Simões; Soares dos Reis; Columbano Bordalo Pinheiro e Nunes Júnior. As gravuras eram acompanhadas de texto por Brito Aranha.

São também de trabalhos deste Artista as publicações seguintes:

Álbum de Gravura em Madeira, de João Pedroso, oblongo, de 9 folhas, com outras tantas gravuras;

Prémio da Sociedade Promotora das Belas Artes em Portugal – 7º ano, Álbum de 12 gravuras de João Pedroso, reproduzindo quadros de El-Rei D. Luís; Anunciação; Vítor Bastos; Bordalo Pinheiro; F. Chaves; Christiano; Lupi; Isaías Newton; Pedroso; G. Pereira; F. J. Resende e J. Rodrigues.

A par de Gravador em Madeira, foi um notável Pintor de marinhas, género que cultivou com paixão. Entre a svárias recompensas obtidas em Exposições de Arte, foram-lhe conferidas Medaljas na Exposição Internacional do Porto, em 1865; Exposições da Sociedade de Belas Artes, de 1865 e de 1880.

O Director Geral dos Correios, Conselheiro Guilhermino de Barros, quando da sua estada em França, onde representou Portugal no Congresso da União Postal Universal de Paris, de Maio de 1878, deu-se à tarefa de estudar a organização dos Serviços Postais Franceses nos seus múltiplos aspectos, sem exclusão do que se referia à emissão de selos. Dái nasceram diversas propostas que, no seu regresso, apresentou ao Governo, entre as quais sobressaiu a destinada a dar novo rumo ao sistema de produção de selos postais que, daía em diante, deixariam de ser em relevo e passraiam a ser estanpados, ou tipografados.

O desenvolvimento sempre crescente do tráfego postal impunha a necessidade de procurar um processo de fabrico de estampilhas mais rápido, e ao mesmo tempo, mais económico. Os selos de relevo, evidentemente mais bonitos, eram de execução lenta e de custo elevado.

A Direcção da Casa da Moeda discordou da inovação e pôs as suas objecções, mas Guolhermino de Barros animado pelo convencimento das vantagens que advinham para os Serviços da sua Administração, não se deu por achado e obteve o despacho Ministerial de 26 de Novembro de 1878, que mandava fabricar os selos postais pelo processo tipográfico.

João Pedroso recebeu então o encargo de fazer os desenhos e os cunhos para uma nova emissão de selos tipografados, que teria três valores, devendo começar-se pelo de 25 réis.

O notável Artista gravou este primeiro cunho em aço, inspirando-se, segundo parece, nos selos com o busto de Victor Manuel II, em curso na Itália desde 1863, e fez um trabalho que pode dizer-se muito agradável, apreciado em conjunto. Gracou depois três cunhos em madeira, no que foi menos feliz, não porque o trabalho s epossa considerar mau, mas especialmente pelo busto do soberano, que toda a gente se empenhou em afirmar que não era o Rei D. Luís, mas o do Par do Reino Vaz Preto, que tinha grande parecença com o Rei. E de tal forma essa crença se radicou no espírito dos filatelistas que ainda hoje os selos dessa emissão, 1880-1881, cão chamados os «Vaz Preto».

O primeiro selo de 25 réis, cunho de aço, imprimiu-se em azul-cinzento. Os dos cunhos em madeira, de 5, 25 e 50 réis imprimiram-se, respectivamente, em preto, lilás-vermelho e azul.

A excelência do seu trabalho arrecadou-lhe Medalhas de Prata e Bronze na Sociedade Promotora de Belas Artes, em 1865 e 1880, e a Medalha de 2.ª Classe, na Exposição Internacional do Porto, em 1865. Morava no Campo das Cebolas, em 1880, e na Rua São Pedro de Alcântara, 67, em 1884.

O seu nome faz parte da Toponímia de: Lisboa (Freguesia de São João de Deus, Edital de 21-01-1933, era a antiga Rua D do Bairro Social do Arco do Cego).

Fonte: “Câmara Municipal de Lisboa – Hemeroteca Municipal”

Fonte: “Velhos Papéis do Correio”, (de Godofredo Ferreira, Editado pelos CTT, Edição de 1949)

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