“Gravadores de Selos Postais Portugueses”

cavalo-dos-ctt-antigoVENÂNCIO Pedro de Macedo ALVES, Gravador, natural da Freguesia da Sé (Lisboa), nasceu a 31-01-1853 e faleceu a 01-02-1933. Era filho de Venâncio Alves e de Miquelina de Macedo Alves. Apenas com 13 anos de idade, a 15 de Fevereiro de 1866, entrou, sem qualquer remuneração, como Aprendiz da Escola de Gravura da Casa da Moeda, dirigida então por Charles Wiener. Entretanto, frequentou, com bastante aproveitamento, as aulas de Desenho de Figura e Desenho Histórico da Academia Real de Belas Artes.

Venâncio Alves casou duas vezes, a primeira com D. Luísa Carolina dos Prazeres Alves e a segunda com D. Elvira Xavier Alves. Do primeiro matrim

Pela saída de Portugal do Gravador belga, em 1867, passou a receber lições do substituto daquele Artista, o 1º Abridor de Cunhos Frederico Augusto de Campos, e a receber o abono diário de 200 réis, que lhe foi aumentado para 320 réis em 1871 e para 400 réis no ano imediato, em atenção ao trabalho muito aproveitável que já produzia, apesar da sua qualidade de aprendiz.

Tendo ocorrido um avaga de Praticante no quadro de Gravadores da Casa da Moeda, em 1876, concorreu ao lugar, em competência com o aprendiz Azedo Gneco, e foi ele o escolhido para o preenchimento da vaga, a despeito da inclinação manifesta do Director pelo outro concorrente.

Em 1889 visitou à sua custa a Exposiçãi Universal de Paris, a fim de estudar os modernos processos de gravura em metal.

A 22 de Fevereiro de 1894 teve a nomeação de 2º Gravador, e em 17 de Maio do mesmo ano foi promovido a 1º Gravador.

Mercê do seu talento artístico e ada constante aplicação ao estudo e ao aperfeiçoamento da sua arte, atingia assim, ainda novo, o mais elevado grau do quadro burocrático a que pertencia, e automaticamente a direcção da Oficina de Gracura da Casa da Moeda, lugar em que ia manter-se por vinte anos, para prestígio daquele estabelecimento do Estado e para proveito dos aprendizes a quem, por dever de ofício e também por inclinação natural, teria que encaminhar na delicada profissão de abridores de cunhos. E bastantes foram os discípulos que lhe passaram pela mão e honraram masi tarde o Mestre exímio e dedicado.

Impossível se torna hoje enumerar todos os trabalhos que executou ou dirigiu no decurso dos quarenta e oito anos em que se manteve na Casa da Moeda, desde a admissão, em 1866, até à aposentação, em 25 de Abril de 1914.

Havendo necessidade de cunhar determinada moeda metálica para a nossa Colónia da Índia, o Ministro respectivo incumbiu um alto funcionárop, que ia a Londres em qualquer outra missão, de aproveitar o ensejo para saber na Cssa da Moeda da capital britânica, as condições em que ali poderiam fazer o cunho da aludida moeda. O Director daquele estabelecimento, depois de ouvier o recado do emissário português, inquiriu deste se ainda estava ao serviço da Casa da Moeda de Lisboa o Gravador Venâncio Alves, e, ao receber a resposta afirmativa, comentou muito admirado que não compreendia como, tendo o governo português ao seu serviço um Artista daquela categoria, mandava tão longe procurar quem lhe gravasse o cunho de uma moeda!

Venâncio Alves, fez também grande número de medalhas, das quais citamos as seguintes:

Medalha “Rainha D. Amélia”, cunhada especialmente para galardoar os expedicionários que tomaram parte nas campanhas de Moçambique em 1894-1895 e da Índia em 1895. Estas Medalhas têm no anverso o busto da soberana, modelado pelo Escultor Simões de Almeida, e no reverso uma coroa de louros, com a data e lugar da expedição.

Medalha Comemorativa da Visita Régia às Ilhas Adjacentes e da Exposição da Ilha de Sºao Miguel (só o anverso), em 1901.

Medalha de Homenagem ao Conselheiro Manuel Francisco de Vargas, modelada por José Simões de Almeida (Sobrinho) e cunhada por incumbência do Corpo de Engenharia Civil, em 1901.

Medlaha Comemorativa da fundação da Assistência Nacional aos Tuberculosos, em 1904.

Medalha Comemotativa da fundação do Hospital de Repouso da Assistência Nacional aos Tuberculosos, em 1904.

Medalha de Homenagem ao Conselheiro Augusto José da Cunha, prestada pelos empregados da Casa da Moeda. Modelo de Simões de Almeida (Sobrinho), cunhada em 1904.

Foram também modelados por Venâncio Alves os bonitos medalhões que ornamentam a frontaria do Teatro da Trindade, em Lisboa.

Não pode dizer-se que seja grande a produção de Venâncio Alves no campo filatélico, mas pode afirmar-se afoitamente que foi magnífica a sua participação na gravação dos selos portugueses.

A Direcção Geral dos Correios, desanimada com a pouca simpatia que inspiraram os selos da emissão de 1880-1881, logo tratou de substituí-los, procurando no estrangeiro quem gravasse o busto do soberano.

Encontrado o Artista e realizado o trabalho, recebeu Venâncio Alves o encargo de desenhar e gravar as cercaduras, o que fez por forma admirável, pois os três desenhos, um por cada taxa, são realmente bonitos e harmoniosos, e foram muito apreciados dentro e fora do País.

O selos desta emissão, de 1882-1883, eram de três valores, 5, 25 e 50 réis, e imprimiram-se respectivamente em preto-cinzento, castanho-avermelhado e azul.

Utilizando a mesma gravura do busto do soberano, nova emissão de quatro valores circulou entre 1884-1887, desta vez com selos de quatro valores: 10, 20, 25 e 500 réis, impressos, respectivamente, nas cores verde, carmim-rosa, violeta-azul, preta. A estampilha de 500 réis imprimiu-se depois em cor violeta.

Com excepção do selo de 25 réis, cuja cercadura é de Azedo Gneco, as dos restantes foram gravadas, com grande felicidade, por Venâncio Alves.

Tendo concorrido com trabalhos seus às Exposições de Paris de 1889 e de 1900 foi premiado com a Medalha de Prata na primeira, e Medalha de Ouro na segunda. A Casa da Moeda recebeu também a Medalha de Prata na Exposição de Bruxelas de 1910, onde expôs trabalhos da sua coleção executados pelo mesmo Artista.

Em 1897 foi agraciado pelo Rei D. Carlos I com o Grau de Cavaleiro da Ordem de Santiago da Espada.

Bibliografia: “Assistentes do Correio-Mor do Reino em Viseu”, (por Godofredo Ferreira, Edição dos CTT, Lisboa 1960)

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