Embora subsistem dúvidas quanto ao seu dia de nascimento (01 ou 09 de Novembro) e quanto ao lugar onde nasceu (Castelo Branco ou Portalegre), o que não restam dúvidas é que Emília Adelaide foi uma grande Actriz, que merece ser conhecida.

 

Emília AdelaideEMÍLIA ADELAIDE Pimentel, Actriz, nasceu em Castelo Branco, a 01-11-1836, e faleceu em Lisboa, a 11-09-1905. Aos 18 anos de idade veio para Lisboa. Era filha de Maria José de Resende Pavia e de Luís Dias Pimentel, operário que veio para Lisboa procurar uma vida melhor e deixou de contactar a família. Aos 11 anos foi com a mãe e duas irmãs para Castelo Branco, em busca de emprego que as sustentasse e, em 1854, costurava num ateliê de modista, no Arco do Bandeira, em Lisboa, e representava num teatro de cordel, sendo então aconselhada por Ernesto Biester, que se teria apaixonado por ela e com quem manteve um caso amoroso, a seguir à carreira teatral. Biester passou a escrever quase exclusivamente para ela.

Matriculou-se no Conservatório Dramático de Lisboa, onde foi leccionada por Duarte Cardoso de Sá, que a acompanhou durante o percurso artístico, e completou rapidamente a sua educação literária.

Estreou-se no Teatro D. Maria II, em 1857, em A Chávena Quebrada, comédia em 1 acto de Luís Vasconcelos, e foi uma revelação. Biester deu-lhe, a seguir, um papel de relevo na peça A Caridade na Sombra, onde conquistou a admiração do público. Naquele teatro, entrou em Os Beijos (1859), peça em 1 acto, O Amor Pedindo Abrigo (1860), em travesti, Uma Menina de Quinze Anos (1860), Galeria Familiar (1861), de Ernesto Biester; nos dramas em 5 actos, Egas Moniz (1862), em verso, e Pedro (1863), ambos de Mendes Leal; Vida de Um Rapaz Pobre, em 7 quadros de Octave Feuillet, tradução de Joaquim José Anaya, e Nobres e Plebeus, em 8 quadros, versão de La Belle au Bois Dormant de Octave Feuillet, traduzido por Francisco Palha; fez o papel de “pagem” em Fidalgos de Bois Doré, drama de George Sand traduzido por Pinheiro Chagas; e participou em O Morgado de Fafe Enamorado, comédia em 3 actos de Camilo Castelo Branco.

No verão de 1863, foi com a Companhia do Teatro D. Maria II pela primeira vez ao Porto, onde fez sucesso. Nesse ano, foi ao Ginásio representar Diana de Lyz, drama de Alexandre Dumas, filho. Emília Adelaide conseguiu permissão do Governo para se deslocar, em visita de estudo, a Londres e Paris, ficando nesta cidade três meses com o intuito de contactar com a Escola de Teatro onde pontificavam Sarah Bernhardt, Hortense Schneider e Victorien Sardou. Tinha, então, em cartaz a comédia realista, em 5 actos, A Família Benoîton.

Quando regressou de Paris exigiu a representação desta peça, traduzida por Ernesto Biester, para pôr em prática o que aprendera com as grandes figuras da comédia francesa e apresentou-se com um luxuoso vestido do costureiro Worth. Seguiram-se Os Primeiros Amores de Bocage (1865), comédia em 5 actos de Mendes Leal, com José Carlos Santos no protagonista, os dramas Angelo, ou o Tirano de Pádua, em 4 actos, de Victor Hugo, tradução de Augusto Rebelo da Silva, em que fez o papel de “Catarina” ao lado de Emília das Neves , Fernanda, de Victorien Sardou, e Dama das Camélias, em 5 actos, de Alexandre Dumas, filho, traduzida por António Joaquim da Silva Abranches.

Contratada por Francisco Palha para integrar a companhia do futuro Teatro da Trindade, enquanto duraram as obras o empresário explorou, temporariamente, o Teatro da Rua dos Condes com o elenco em que figurava Emília Adelaide. Entre 1860 e 1866, residiu na Calçada do Carmo, nº 3, em Lisboa.

A 30 de Novembro de 1867, entrou no espectáculo inaugural do Teatro da Trindade com a estreia das comédias A Mãe dos Pobres, em 5 actos, de Ernesto Biester, e O Xerez da Viscondessa, em 1 acto, traduzida do original espanhol e adaptada por Francisco Palha, ao lado de Delfina Espírito Santo e do Actor Tasso. Ali criou as protagonistas de Morgadinha de Valflor (1869), drama em 5 actos que Pinheiro Chagas escreveu para benefício da Actriz e que foi um dos seus grandes triunfos, e da comédia Mademoiselle de Belle Isle, de Williams Seymours.

Percorreu as Províncias e Ilhas com uma companhia dramática de que era Directora e, em 1871, no apogeu da glória, foi actuar ao Brasil, onde obteve um dos maiores sucessos que Actores portugueses haviam alcançado. Os proventos que auferia incentivaram-na a fazer-se Empresária de uma numerosa Companhia, que se revelaria pouco rentável e lhe proporcionou grandes dissabores.

Em 1871, de volta ao Teatro D. Maria II, representou os dramas: em 5 actos, Visão Redentora, de Rangel de Lima e Ferreira de Mesquita, Maria Antonieta (1872), de Giacometti, tradução de Ernesto Biester, As Duas Órfãs (1876), de Adolph d’Ennery, tradução de Ernesto Biester; em 3 actos, Suplício de Uma Mulher (1873), de Mme. Girardin, tradução de Ernesto Biester, no papel de “Matilde”, A Aventureira (1874), de Augier, A Caridade (1875), de Costa Cascais, ao lado de António Pedro e que deu 27 récitas.

Foi a Coimbra representar, no Teatro Académico, Frei Caetano Brandão, drama em 5 actos de Silva Gaio, e ali recebeu o diploma de sócia honorária da academia. Em Fevereiro de 1880, Emília Adelaide fez parte de uma companhia do Actor Vicente Pontes de Oliveira em digressão pelo Brasil e foi muito aplaudida nos teatros das principais cidades por onde passou.

De regresso, formou uma Companhia que tomou o Teatro dos Recreios, em Lisboa, ali representando Teresa Raquin (1880), de Émile Zola, e Os 30 Botões, comédia de Eduardo Garrido. Em janeiro de 1881, suspendeu os espectáculos no Teatro dos Recreios, reservando-se para recomeçá-los em Maio, no Príncipe Real, que tinha arrendado por três anos. No Teatro dos Recreios, parte dos artistas ficaram sem escritura e outros, que não a tinham desde o princípio da época, associaram-se para trabalhar em comum. Escolheram para o efeito o Teatro dos Recreios e, devidamente autorizados pelo proprietário, abriram-no a 13 de Agosto de 1881.

Emília Adelaide estreou-se no Príncipe Real com os dramas Suicídio, em 5 actos, de Paulo Ferrari, tradução de D. Noronha, e Madalena (03/01/1884), de Pinheiro Chagas, uma das mais belas criações dramáticas da Actriz; nesse mesmo mês, levou ao Teatro dos Recreios A Ceia Infernal e fez temporada no Porto.

Depois de alguns anos afastada do palco, dedicada à Companhia, representou os papéis principais nas peças das suas festas artísticas, entre as quais O Tutor (05/04/1884), drama em 5 actos de Esteves de Carvalho, ao lado de Pinto de Campos.

A 24 de Junho de 1884, tomou o vapor Senegal para a Baía, donde partiu em tournée pelo Brasil e, no Rio de Janeiro, representou com muito agrado, no Teatro S. Luís, peças do seu repertório e os dramas O Amor e o Dever, de Francisco Serra, Fortuna e Trabalho e Homens Ricos, ambas em 5 actos de Ernesto Biester, As Pupilas do Sr. Reitor, extraído do romance de Júlio Dinis, Pecadora e Mãe, Dalila, em 3 actos, de Octave Feuillet, imitação de António Serpa Pimentel, e Tartufo, comédia de Molière, traduzida em verso pelo Visconde de Castilho.

O seu último papel, antes de abandonar a cena, foi “Adélia” em Antony, drama de Alexandre Dumas, pai, traduzido por Ramalho Ortigão, no Teatro D. Maria II, atingindo notável perfeição, reconhecida pelo público e pela crítica. Guiomar Torrezão afirmava que Emília Adelaide não recuava diante de nenhum género teatral, por mais difícil e arriscado que parecesse.

Seguiu para o Rio de Janeiro, onde fundou um importante estabelecimento de modas. Em 1902, foi residir para Lisboa. Do Brasil, guardava 16 diplomas de corporações científicas e de beneficência, entre os quais o de sócia do Retiro Literário do Rio de Janeiro, da Beneficência Portuguesa, da Sociedade do Amor à Monarquia, das Congregadas das Filhas de Maria, este último entregue pela própria Imperatriz do Brasil.

Ao fim de tão gloriosa carreira, viveu os últimos dias modestamente, ao lado da irmã, e faleceu a 11 de Setembro de 1905, com 69 anos incompletos. Residia, então, na Rua de S. Bernardo, à Estrela, em Lisboa. Emília Adelaide estava reformada desde 1885, auferindo como Artista de 1ª Classe do Teatro Nacional 72$000 réis mensais, o que correspondia ao vencimento de um Oficial General. Os principais Escritores da época disputavam-na para intérprete das suas produções e foi a criadora, em Portugal, do repertório de Victorien Sardou.

Quando faleceu, Pedro Pinto recordou-lhe o olhar meigo e insinuante, o sorriso adorável, o génio carinhoso e afável, a voz simpática e atraente. Foi uma das paixões do Pintor Miguel Ângelo Lupi (1826-1883), que lhe fez um retrato que esteve exposto ao público em Londres (1866) e na Exposição de Paris (1867).

O seu nome faz parte da Toponímia de: Amadora (Freguesia da Venda Nova).

Fonte: “Grande Enciclopédia Portuguesa e Brasileira”

Fonte: “Dicionário de Mulheres Célebres, de Américo Lopes de Oliveira, Lello & Irmão Editores, Edição de 1981, Pág. 8”

Fonte: “Luciano Reis – Personalidades Artísticas”, (Século XX, 1º Volume, Editora Fonte da Palavra)

Fonte: “Feminae – Decionário Contemporâneo”, (Direcção de João Esteves e de Zília Osório de Castro; Coordenação de Ilda Soares de Abreu e Maria Emília Stone; Edição da Comissão para a Cidadania e Igualdade de Género, Pág. 254, 255 e 256)

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